Suzi Pereira Advogada
4 min de leitura
15 Oct
15Oct

Você já ouviu a frase: “Aqui a gente só contrata PJ”?

Pois é.

Muita gente entra feliz achando que vai ganhar mais liberdade e dinheiro limpo, mas acaba descobrindo que virou empresário de si mesmo sem segurança nenhuma. Esse é o coração da pejotização — um tema que chegou até o STF (Supremo Tribunal Federal) e está sendo discutido em audiência pública, porque afeta milhões de brasileiros. Neste artigo direto ao ponto, você vai entender:

  • O que é pejotização (sem juridiquês)
  • Por que o STF está debatendo o assunto
  • Quem ganha e quem perde com esse modelo
  • E como se proteger se te oferecerem um contrato assim

O que é “pejotização”, de forma simples

Pejotização é quando uma empresa contrata você como pessoa jurídica (PJ), e não como funcionário CLT. Em vez de ter carteira assinada, você abre um CNPJ, emite nota fiscal e assume todos os encargos que antes eram da empresa. 


Na prática, o que muda: 

Em resumo: na CLT você é protegido; como PJ, você é “livre” — mas também sozinho.


Por que o STF está debatendo isso

O Supremo Tribunal Federal está julgando o processo ARE 1.532.603, que discute quando contratar como PJ é legal — e quando é fraude trabalhista disfarçada. Durante as audiências, especialistas alertaram que:

  • Muitos trabalhadores não têm escolha e são obrigados a abrir empresa para trabalhar.
  • Profissões como médicos, jornalistas e profissionais de TI são as mais afetadas.
  • Essa prática reduz direitos e enfraquece a segurança social (como aposentadoria e FGTS).
  • Empresas e governos economizam, mas o trabalhador perde proteção.

O ministro Gilmar Mendes resumiu bem:

“Precisamos equilibrar liberdade econômica com proteção social.”

Enquanto o STF não decide, todas as ações judiciais sobre pejotização estão suspensas.


O lado oculto da “liberdade PJ”

A ideia de ser PJ soa moderna — trabalhar por conta própria, ter autonomia, escolher projetos.

Mas, muitas vezes, é uma falsa liberdade. Exemplo real:

Você entra em uma empresa como “prestador de serviço PJ”.
Tem horário fixo, chefe, metas, crachá e até ponto eletrônico.
Só falta o registro — e todos os direitos que vêm com ele.

Isso é pejotização abusiva — quando a empresa disfarça uma relação de emprego para pagar menos encargos.


Quem ganha e quem perde com a pejotização

Em outras palavras: quando o custo da “liberdade” recai só sobre o trabalhador, não é liberdade — é transferência de risco.


Como saber se você está sendo pejotizado de forma irregular

Se você está ou foi contratado como PJ, observe:

  1. Tem horário fixo e chefe direto?
  2. Trabalha só para um cliente ou empresa?
  3. Não pode recusar tarefas ou trabalhar para outros?
  4. A empresa te dá ordens e cobra metas?

Se a maioria das respostas for “sim”, é sinal de que existe relação de emprego disfarçada — e isso pode ser questionado na Justiça do Trabalho.


O que fazer se estiver nessa situação

  • Leia o contrato com atenção. Se tiver cláusulas de exclusividade ou controle rígido, é sinal de subordinação.
  • Guarde provas. E-mails, mensagens, planilhas de metas — tudo que mostre rotina e controle.
  • Converse com um advogado trabalhista. Ele pode analisar se há vínculo e calcular o que você teria direito.
  • Planeje financeiramente. Como PJ, você precisa prever tributos, INSS, férias e imprevistos.

Por que isso te afeta mesmo que você não seja PJ

A pejotização é um sintoma de mudança estrutural: o país está empurrando o risco do trabalho para o trabalhador.

Menos arrecadação significa menos proteção e mais desigualdade. A decisão do STF vai definir o futuro das relações de trabalho no Brasil.


Conclusão: liberdade sem proteção não é evolução

Ser PJ pode ser ótimo — se for uma escolha consciente e equilibrada.

Mas quando é imposto como condição para trabalhar, é injusto e insustentável. No fim, a verdadeira liberdade é poder escolher — e saber o que está em jogo.

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